“Se quiser falar ao coração do homem, há que se contar uma história. Dessas que não faltam animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim, suave e docemente que se despertam consciências”. (Jean de La Fontaine)
As 12 princesas Dançarinas
Era uma vez um rei que tinha 12 filhas muito lindas. Dormiam em 12 camas, todas no mesmo quarto, e, quando iam para a cama, as portas eram todas fechadas à chave. Todas as manhãs, porém, os seus sapatos tinham as solas gastas, como se tivessem dançado com eles toda a noite, mas ninguém descobria como isso tinha acontecido.
Então, o rei fez saber por todo o país, que se alguém pudesse descobrir o segredo, e saber onde é que as princesas iam dançar à noite, casaria com aquela de quem mais gostasse e seria rei, depois dele morrer. Mas quem tentasse descobrir isso, e ao fim de três dias e três noites não conseguisse, seria morto.
Apresentou-se logo o filho de um rei. Foi muito bem recebido e à noite levaram-no para o quarto ao lado onde dormiam as princesas. Ele tinha que ficar sentado para ver se descobria, onde elas iam dançar, e, para que nada se passasse sem ele ouvir, deixaram-lhe a porta do quarto aberta. Mas o rapaz em pouco tempo adormeceu, e, quando acordou de manhã, viu que as princesas tinham dançado de noite, porque as solas dos sapatos delas estavam cheias de buracos. O mesmo aconteceu nas duas noites seguintes e, por isso, o rei ordenou que lhe cortassem a cabeça. Depois dele vieram muitos outros, mas nenhum deles teve melhor sorte, e todos perderam a vida da mesma maneira.
Aconteceu que um velho soldado atravessava o país onde esse rei reinava. Ao atravessar a floresta, encontrou uma velha, que lhe perguntou para onde ele ia.
“Quero descobrir onde é que as princesas dançam, e assim posso vir a ser rei.”
Bem, disse-lhe a velha, isso não custa muito. Basta que tenhas cuidado, e não bebas nada do vinho que uma das princesas lhe trará à noite, e logo que ela se afaste deves fingir que está pegando no sono. A seguir a velha deu-lhe uma capa, e disse:
“Logo que vestires essa capa, você se tornará invisível, aí poderás seguir as princesas para onde quer que elas forem.”
Quando o soldado ouviu esses bons conselhos, foi ter como rei, que deu ordem para que lhe fossem dadas ricas vestes para ele trajar, e, quando veio a noite, conduziram-no até o quarto perto do das princesas.
Quando ia deitar-se, a mais velha das princesas trouxe-lhe uma taça de vinho, mas o soldado entornou-a sem que ela percebesse. Depois estendeu-se na cama, e, começou a roncar como se estivesse pegado no sono.
Quando as 12 princesas o ouviram, puseram-se a rir, e levantaram-se e abriram as malas, e depois, tendo vestido os ricos trajes que de lá tiraram, puzeram-se a saltitar de contentes. Mas a mais nova disse preocupada:
“Não me sinto bem. Tenho certeza de que vai suceder alguma desgraça.”
“Tola, disse a mais velha. Já não te lembras quantos filhos de reis nos têm vindo espiar sem resultado? Quanto ao soldado tive o cuidado de lhe dar uma bebida que o fez dormir.”
Quando estavam todas prontas, foram olhar o soldado, mas ele continuava a roncar e não se mexia. Elas julgaram-se seguras. A mais velha foi até a sua cama e bateu palmas, e a cama enfiou-se logo pelo chão, abrindo-se um grande alçapão. O soldado viu-as descendo uma a uma. Levantou-se, colocou a capa invisível, e seguiu-as, mas no meio da escada pisou na cauda do vestido da mais nova, que gritou para as irmãs:
“Alguém me puxou o vestido!”
“Que tola”- disse a mais velha- “foi um prego que deve estar na parede!”
Lá foram todas descendo e, quando chegaram ao fim, encontravam-se num bosque de lindas árvores de prata. O soldado levou um raminho de uma das árvores. Foram ter depois em outro bosque onde as folhas das árvores eram de ouro e depois a um terceiro onde eram folhas de diamantes. O soldado pegou um raminho de cada uma das árvores dos bosques.
Chegaram finalmente a um grande lago, e à margem, estavam encostados 12 barcos, tendo dentro 12 príncipes muito bonitos, que esperavam pelas princesas. Cada uma entrou em um barco, e o soldado saltou para o barco onde ia a mais nova. O príncipe que remava disse à ela:
“Não sei o que é, mas, apesar de estar remando com muita força, parece que vamos mais devagar que de costume, o barco hoje está muito pesado.”
“Deve ser do calor, disse a mais nova princesa.”
Do outro lado do lago estava um grande castelo, de onde vinha um som de clarins. Desembarcaram todos, e entraram no castelo. Cada príncipe dançou com sua princesa, e o soldado invisível, dançou entre eles, quando punham um taça de vinho perto de qualquer princesa, ele bebia-a toda, quando elas levavam à boca a taça estava vazia. A irmã mais nova estava assustada, mas a mais velha fazia-a calar.
Dançaram até as três da manhã, e então, os seus sapatos estavam gastos e tiveram que parar. Os príncipes levaram-nas outra vez para o outro lado do lago, mas desta vez o soldado entrou no barco da princesa mais velha, e na margem oposta todos despediram-se combinando voltar no dia seguinte.
Quando chegaram ao pé da escada o soldado adiantou-se e subiu primeiro que as princesas, indo logo deitar-se e fingindo dormir.
As princesas ouviram-no roncar e disseram :
“Está tudo bem”. Despiram seus trajes , guardaram nas malas, tiraram os sapatos e deitaram-se.
De manhã o soldado não disse nada do que tinha visto, mas decidiu tornar a ver esta aventura, e por isso, foi também nas outras duas noites com as princesas. Na terceira noite o soldado teve o cuidado de levar consigo uma taça de ouro como prova de onde tinham estado.
Chegada a ocasião de revelar o segredo, o soldado, foi levado à presença do rei, e levou os três ramos e a taça de ouro.
As princesa puseram-se a escutar atrás da porta para ouvir o que ele diria. E quando o rei perguntou:”Onde é que as minhas 12 filhas dançam toda noite? O soldado respondeu: “Com 12 príncipes num castelo debaixo da terra.”
Contou ao rei tudo o que tinha sucedido e mostrou-lhe os três ramos e a taça de ouro que trouxera consigo.
O rei chamou as 12 princesas e perguntou-lhes se era verdade o que o soldado dissera. Elas vendo que o seu segredo tinha sido descoberto, confessaram tudo.
O rei perguntou ao soldado qual delas ele queria como esposa, ele respondeu: “Já não sou muito novo, por isso, escolho a mais velha.”
Casaram-se e o soldado ficou sendo o herdeiro do trono.